14 de mar. de 2010

Rising Sun- Caps 9,10 e 11

Essa Fanfic foi escrita por mim e é nada mais que uma homenagem ao trabalho maravilhoso de Stephenie Meyer e à essa saga que todos nós amamos.
Se gostaram da Fic, divulguem para outros fãs da saga! Bjos, Grey!


Capítulo 9 – Lar

O restante da viagem passou num borrão – literalmente. Quando chegamos aos arredores de Port Angeles, a luz difusa do sol já se despedia sob a constante camada de nuvens da península de Olimpic. Jacob e eu discutíamos sobre como deveríamos chegar. Sujos e cansados como estávamos, ou limpos, arrumados e descansados. Não seria uma surpresa muito agradável para Billy se visse seu filho naquelas condições, ainda mais depois de tanto tempo sem vê-lo. Jacob disse que comunicou a Sam que ele estava a caminho, sem maiores explicações. Provavelmente La Push inteira já sabia a essa altura. Não seria fácil explicar como fomos parar lá – e do que tínhamos fugido. Ademais, eu ainda tinha um mistério nas mãos. O plano original seguiria de acordo com o combinado, afinal, era o real motivo para toda aquela confusão.
***
A dor aguda me acordou abruptamente. Agradeci aos céus que nenhum humano estivesse sentado perto de nós. Jacob estava acordado e me olhava preocupadamente. O ônibus deslizava ruidosamente pelas ruas molhadas de Forks. Nós desceríamos alguns quarteirões a frente. Vesti um moleton e passei as alças da mochila nos ombros. Jacob se alinhou no bando, esticando as pernas longas.
- Pesadelo? – Perguntou ele sério.
- Pra variar um pouco – Eu disse sorrindo para ele. – Você dormiu?
- Não, não consegui – Ele bocejou e passou o braço por meus ombros. – Nossa, eu realmente senti falta desse verde todo. – Jacob olhava pela janela com uma alegria emocionada nos olhos. Tive que admitir que também me sentia feliz em voltar. Aquela cidadezinha inócua e verde era o lugar que eu considerava meu lar, de muitas maneiras diferentes, minha história nascera ali, como a de meus pais. Era estranho – um pensamento irônico – que uma cidade tão pequena e tão improvável abrigasse tanta magia, tantos segredos. O ônibus parou no meio fio e nós descemos. Uma garoa fina e gelada caía do céu cinzento. Ficamos parados ali, na chuva, admirando a paisagem. Não era nada demais, apenas uma rua normal, alguns carros velhos estacionados, algumas pessoas andando apressadamente com seus grandes guarda-chuvas. Nada demais, mas mesmo assim era bom estar de volta.
Jacob pediu meu celular emprestado e discou um número que eu não conhecia. Chamou duas vezes e uma voz rouca atendeu.
- Alô – O garoto tinha uma voz de quem acaba de ser acordado.
- Seth? Sam está te proibindo de dormir? – Jacob sorria largamente ao ouvir a voz do amigo.
- Jake? Ei cara, como estão às coisas por aí – Seth perguntava animado, como sempre fazia quando nos ligava.
- Bem, Forks não muda muito, mas acho que está…chovendo. – Jacob brincou.
- Quê? Forks? Como assim? Você está em Forks Jake? – Seth parecia ter acordado completamente e se eu não estava ouvindo coisas, ele parecia estar quicando.
- Sam não contou que eu estava vindo? – Jacob me olhou confuso.
- O quê? Não, ele não disse nada. Quando você contou a ele? – Seth parecia aborrecido.
- Ontem à noite.
- Ah, era minha folga. Droga. Ninguém me falou nada, aposto que a matilha inteira já sabe.
- Seth, você pode pedir para alguém vir nos buscar? – Jacob já estava impaciente, a chuva começava a apertar.
- Claro, só preciso achar minhas chaves, chego aí em cinco minutos Jake. Ei, espera aí. Você disse “nos buscar”?

- Disse. Ou você quer que Nessie vá a pé? – Jacob piscou para mim e eu não pude deixar de sorrir, apesar da dor fraca, mas irritante em meu braço.
- Nessie veio também? Que ótimo, como está aquela pestinha? Será que ela ainda gosta de apostar quem caça o maior? – Seth já começava a fazer planos, obviamente se esquecendo de que, apesar dos sete anos, eu provavelmente tinha vinte.
- É ela ainda adora se exibir com a caça. – Eu mostrei a língua para ele. - Seth, ande logo, eu quero ver meu pai. – Jacob não conseguia esconder a satisfação em seu rosto. Quanto tempo ele esteve esperando para estar em casa? Senti uma onda de remorso me atingir. A culpa de toda aquela distância era minha.
- Certo. Nos vemos daqui a pouco, Jake. – Seth desligou.
- Esse garoto não mudou nada. – Jacob balançava a cabeça, sorrindo, parecia estar falando consigo mesmo.
- Vocês não envelhecem mais do que nós Jake. Estão paralisados no tempo esqueceu? – Tentei sorrir para ele, mas senti que minha tentativa tinha falhado.
- Você deveria ligar para eles. Sua mãe deve estar louca. – Jacob sempre fazia isso. Não importava o quanto eu me esforçasse para parecer bem, se algo estivesse errado, ele sempre saberia. Às vezes eu desconfiava que Jacob conhecesse melhor minha mente do que meu próprio pai.
- É, você deve estar certo. - Olhei fixamente para ele - Jake, você não se esqueceu do…
- Não. Eu sei para quê viemos. – Ele me encarou com os olhos semicerrados, a testa vincada de preocupação. Eu aquiesci e pressionei o braço direito. Jacob percebeu.
- Está doendo? – Ele olhava a cicatriz prateada em meu antebraço. – Você conseguiu uma cicatriz igual a da sua mãe. – Jacob acariciou o contorno da cicatriz.
- Não era para estar doendo, já cicatrizou. – Eu olhei para o braço. - Vou ligar para minha mãe.
***
A ligação para minha mãe foi mais um monólogo do que uma conversa. Jacob tinha razão, ela estava pirando. Fui repetindo as mesmas frases tranqüilizadoras para o resto da família, à medida que o aparelho passava de mão em mão. Todos eles se desculparam por terem me tratado como um bebê, desejaram um bom fim de semana, mandaram lembranças para Charlie e Billy, mas ninguém tocou no nome de meu pai, nem em seu súbito descontrole com Jacob. Eu queria falar com ele, mas ele não pegou o telefone, então eu não pedi.
Quando desliguei o celular, Seth acabava de encostar uma caminhonete velha e barulhenta – que era de Sue – no meio fio. Ele pulou do carro e atravessou a rua com um sorriso de orelha a orelha. Pegou Jacob num abraço tão apertado, que ouvi sua coluna estralar, depois Seth me ergueu do chão e me girou no ar. O garoto ainda tinha o mesmo sorriso doce e inocente, o que era realmente desconcertante naquele enorme corpo moreno.
A recepção em La Push foi calorosa. Jacob foi recebido pela tribo como um combatente que volta da guerra. Eu me sentia em casa, me sentia parte da família, apesar de ser uma vampira entre um bando anormalmente grande de lobisomens. Surpreendi muitos olhares perplexos me fitando com incredulidade, a última vez que muitos deles me viram, eu era apenas uma garotinha de – aparentemente – sete ou oito anos. Agora, eu podia facilmente me passar por uma moça de dezoito anos. Eu cresci alguns centímetros a mais que minha mãe, – embora ainda ficasse muito pequena ao lado de Jacob e de seus irmãos gigantescos – meu cabelo acobreado clareou até um tom de vermelho sangue e cresceu em cachos até a cintura, e meus olhos, bem, ainda eram os olhos chocolate da Bella. Depois que o espanto de todos se dissipou em risadas e conversas descontraídas, eu parei para observar os rostos familiares e tão parecidos que pairavam sobre a roda que se formou no quintal de Billy.
Seth, Embry e Quil continuavam exatamente iguais, a pequena Claire agora tinha mais ou menos nove anos e Quil ainda era a fiel babá da garota. Sam e Emily se casaram há alguns anos e o filho deles, o pequeno Henry estava com onze meses – me lembrava muito bem do batizado do garoto, quando Jacob teve que ficar fora uma semana para exercer seu trabalho de padrinho. Paul e Rachel se casaram na primavera seguinte ao batizado, e para evitar que o noivo se descontrolasse e explodisse dentro de seu smoking, os vampiros não compareceram a cerimônia. Jared e Kim estavam de casamento marcado e Leah, bem… Leah não voltou pra casa. Como ela mesma disse a Jacob quando se separou da matilha de Sam, Leah matriculou-se numa universidade, ás vezes visitava Sue e Seth, mas algum tempo depois, não voltou mais para casa. Raramente se transformava e Jacob teve cada vez menos notícias suas. Apesar da deserção, todos estavam tranqüilos por Leah finalmente estar feliz com sua vida. Billy e o velho Quil Ateara continuavam os mesmos, os anos que passaram tão rapidamente não tiveram muita influência sobre os anciões quileutes – além de uma respeitosa cabeleira grisalha e marcas de expressão, que eram ligeiramente disfarçadas pela pele arruivada.
A noite estava clara e fria. Uma brisa leve soprava da praia, trazendo o cheiro da maresia. Aos poucos, os convidados foram deixando a pequena casa dos Black, que lá pela meia noite já estava completamente silenciosa. Apenas Jacob e Billy permaneceram absortos em suas conversas – que eu parei de tentar acompanhar. Havia algo dentro de mim, algo inquietante. Algo que pinicava em minha mente como agulhas pontudas. E eu sabia o que era. Eu precisava fazer o que tinha vindo fazer. Precisava continuar.
Levantei do degrau em que estava sentada, perto da entrada da casa, e chamei Jacob num sussurro que ficou bem audível no silencio da madrugada. Eu não queria interromper a conversa dos dois, mas eles encontravam assuntos intermináveis para discutir, parecia que nunca ia ter fim. E eu, decididamente, precisava ir a um certo lugar.
- Jake, preciso ir a minha casa. – Disse a ele quando estávamos fora do alcance dos ouvidos de Billy. Ele acenou levemente com a cabeça, e no escuro eu pude ver seus olhos faiscarem nos meus.
- Me dê um minuto. Vou ajudá-lo a se deitar e já vamos. – Jacob beijou o alto da minha cabeça e se afastou silenciosamente.
Alguns minutos depois ele voltou, e usava apenas uma bermuda velha. Eu o observei se aproximando com passos largos e suaves, a pele morena reluzindo sob a luz do céu noturno.
- Vejo que você pretende se transformar. – Olhei com reprovação para seu short esfiapado e para a cordinha que nunca saía de seu tornozelo. – Ou só está com calor?
- Nunca se sabe. – Disse ele dando de ombros e sorrindo de leve.
Eu já estava me preparando para uma longa caminhada pela floresta, quando Jacob pôs uma mão em meu ombro e me fitou com um sorriso torto.
- Ei, vamos de carro. – Ele pegou minha mão e me conduziu pelo quintal escuro.
Escondido entre as árvores, em um terreno desigual nos fundos da pequena casa dos Black, havia uma pequena oficina improvisada. Se minha visão não fosse anormalmente boa, teria sido difícil saber o que realmente tinha ali. Mas foi fácil distinguir o carro estacionado entre pilhas de sucata, armários velhos e ferramentas espalhadas por toda parte.
- Droga, Paul andou mexendo nas minhas coisas. – Bufou Jacob quando se deparou com todas aquelas coisas empilhadas de qualquer jeito. – É só eu virar as costas que isso aqui vira um chiqueiro. – Jacob abria caminho pela garagem, empurrando ferramentas e caixas de papelão repletas de peças de carro. Eu observava em silêncio, achando graça nas caretas e reclamações de Jacob. Enfim ele abriu espaço suficiente para abrir a porta do carro vermelho que jazia na garagem bagunçada. Se jogou no banco do motorista e girou a chave na ignição. O ronco do motor cortou o silêncio da noite e uma nuvem de poeira subiu com o ronronar do escapamento. Ele deu marcha ré no carro e parou-o a meu lado.
- Posso lhe oferecer uma carona senhorita? – Ele sorriu e estendeu a mão para mim.
- Tudo bem – Balancei a cabeça, tentando entender como ele conseguia fazer aquilo. – É um Rabbit Jake? – Perguntei analisando o painel. Meu pai e Rosalie sempre foram os mais interessados por carros na família, mas eles nunca me ensinaram muita coisa a respeito. Meu grande professor no assunto sempre fora Jacob. Me lembrava das muitas vezes que fiquei observando ele mexer em peças e consertar os carros na nossa garagem sempre cheia. Eu o enchia de perguntas sobre modelos, motores, divergências entre marcas, e ele sempre respondia com muita disposição.
- Sim, 1986, um clássico. – Disse ele acelerando o motor que trepidava sob nós. Os olhos brilhando. – Eu mesmo montei. Comecei quando sua mãe veio morar em Forks, eu nem tinha idade para dirigir. – Jacob encarava o nada, absorto em lembranças de uma época em que eu nem mesmo ousava querer pensar. Seus olhos assumiram um brilho distante. Ele com certeza sentia saudade daquela época de sua vida.
- Hum. – Foi só o que consegui dizer. Fiquei imaginando quantas vezes ele e minha mãe passearam naquele carro. Era um pensamento doloroso para manter em foco, então, rapidamente me forcei a pensar no que me esperava em minha antiga casa.
Jacob dirigia rápido pela estrada rodeada pela floresta densa e escura. Com a velocidade e a escuridão, não se podia enxergar muito do lado de fora, mas mesmo assim eu enxerguei os vultos enormes entre as árvores. As silhuetas de dois lobos acompanhando o carro em alta velocidade.
- Seth e Quil estão fazendo a ronda hoje. Que ótimo. – Jacob bufou e acelerou o carro.
- Algum problema? – Perguntei, saindo de meus devaneios.
- Não, só que eles vão fazer perguntas. – Jacob encarava a estrada a sua frente, vincando a testa.
- Nós vamos pensar em algo depois. – Eu não conseguia me concentrar em mais nada naquele momento. Uma sensação estranha me assaltou, era quase um enjôo. À medida que nos aproximávamos da grande casa branca, eu me sentia cada vez mais fria. Mas eu não estava com medo. Não por mim, pelo menos.
De qualquer forma, eu teria algumas respostas aquela noite. Eu realmente queria que eu estivesse apenas enlouquecendo, mas algo dentro de mim teimava em afirmar o contrário. A luz que se acendeu em algum canto remoto de minha mente não queria ser apagada. Ela piscava e piscava. E hoje eu saberia o porquê. Essa era a minha melhor pista.

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Capítulo 10 – Migalhas

Eu parei um segundo, ouvindo, cheirando… Tudo parecia estar normal. A antiga estrada que levava para a casa estava parcialmente invadida pela vegetação. As copas das árvores se encontraram, transformando a estreita passagem em um túnel que ocultava quase completamente o céu. O antigo gramado – sempre regularmente aparado e livre de ervas daninhas – estava imerso em um mar de samambaias e arbustos. Quando alcancei as escadas – coberta de folhas e lama seca – e olhei através dos vidros empoeirados, só consegui enxergar o vazio. Ninguém esteve ali. Não desde que nós nos mudamos.
Jacob me seguia de perto, tão silenciosamente que ás vezes eu me esquecia dele ali. Ninguém disse uma palavra. Estávamos checando o local, inspirando o ar intensamente, em busca de cheiros desconhecidos. Meus olhos vasculharam cada canto em meu campo de visão. Não havia nada ali. Nenhum som, nenhum cheiro, nenhum rastro. Apenas a floresta margeando o terreno e a brisa leve que agitava a vegetação rasteira a nossa volta.
- Ness, não há nada aqui. – Jacob aproximou-se, a voz rouca quebrando o silencio. Ele tinha razão, não fazia sentido ficar ali, contemplando a casa vazia no meio da noite. Se alguém tivesse estado ali nos últimos dias – e até meses – nós saberíamos. Jacob era muito bom em identificar pistas, era algo natural nele, mesmo que meus sentidos aguçados deixassem de registrar algo, ele teria notado. Mas, mesmo assim…
- Vamos entrar Jake. – Eu precisava verificar mais uma coisa. Avancei pelo gramado espesso me deslocando suavemente pela relva que – em alguns pontos – alcançava minha cintura. Enquanto avançávamos, cautelosamente, senti uma ansiedade estranha se alojar em meu estômago. Era quase como se eu soubesse o que estaria ali, alguns metros, dentro da casa – quase como se tivesse certeza de que encontraria o que estava esperando. A ansiedade fez meu coração acelerar, a cada passo martelando mais forte. Senti a cicatriz em meu braço formigar, e lentamente uma queimação sutil percorreu todo meu corpo. As imagens da visão na sala de aula inundaram minha mente tão abruptamente, que por um segundo imaginei que estivesse se repetindo. Cada passo mais próximo, minha mente trabalhava mais rápido, e em conseqüência, meu corpo se acelerou. Meu coração deu uma guinada, martelando ruidosamente em meu peito. Jacob parou, me encarou por um instante, checando meu estado. Ele parecia preocupado e eu não podia culpá-lo, seus ouvidos – tão sensíveis quanto os meus – captaram meu súbito descontrole.
- Tudo bem aí Ness? – Resmungou ele, tentando disfarçar a ansiedade na voz.
- Jake, não sei o que está acontecendo. – Falei antes que pudesse me conter. Eu nunca tinha me sentido assim, nem mesmo quando – há sete anos – estivemos cara a cara com o exército Volturi. Era como se minha parte humana estivesse entrando em choque.
- Calma Ness, vamos voltar para La Push, você precisa dormir um pouco. – Jacob se virou de frente para mim, impedindo minha passagem, desistindo de sua tentativa de parecer displicente. Eu queria continuar, mas meus pés não me obedeciam e meu corpo não queria resistir aos braços de Jacob, estendidos protetoramente a minha volta, como se eu fosse desabar a qualquer momento. Me perguntei que estado eu aparentava.
- Não Jake, eu… – Mas eu não consegui encontrar um sentido para terminar a frase. A leve queimação em meu corpo se intensificava a cada minuto. Senti meu coração pulsando nos ouvidos, me impedindo de ouvir o que Jacob resmungava. Eu tive a nítida impressão de que aquela dor que se espalhava silenciosa por meu corpo era um mau sinal. O veneno de meu pai estava circulando por minhas veias, e eu não sabia ao certo como ele me afetaria. Eu era meio vampira, mas metade de mim também carregava os traços de humanidade, tão frágeis, tão intensos e mutáveis. Não haveria como saber os efeitos do veneno em um mestiço, pelo menos, não em mestiços de vampiro – como eu. Mas eu não podia me dar ao luxo de ponderar muito sobre isso. Eu tinha algo mais importante em minhas mãos no momento. Algo que nem eu mesma tinha certeza, mas que, obviamente, implorava por minha atenção a cada noite mal dormida, e que muito recentemente, mostrava-se em formas de surtos de descontrole. Inspirei o ar até sentir meus pulmões cheios, reuni toda força que sobrara em minha mente e me obriguei a continuar. Eu não voltaria para casa tendo menos respostas – e mais perguntas – martelando em minha mente. Contornei a enorme barreira de pele arruivada que se postava rigidamente em minha frente e rumei apressada para a entrada da casa. Jacob concluiu enfim que ele não conseguiria vencer minha convicção – ou minha teimosia – e apenas me seguiu escada a cima. Quando forcei a maçaneta da porta, descobri, por fim, que estava aberta. Lancei um olhar inquisitivo a Jacob, que na mesma hora, se pôs em modo de alerta.
- Alice colocou as chaves da casa na mochila, Jake. O que significa que estava trancada. – Sussurrei para ele. Jacob assentiu, suas narinas dilatando para captar odores estranhos. Empurrei a porta lentamente, o ar parado e frio de dentro da sala me alcançou. Inspirei e não senti nada além do cheiro de mofo e poeira estagnados no ar. Avancei mais alguns passos, sempre alerta a qualquer coisa que se movesse, ou que cheirasse diferente. A escuridão não me atrapalhava em nada na inspeção do ambiente, eu podia ver claramente cada móvel coberto por plásticos e lençóis velhos, cada tapeçaria enrolada nos cantos da sala, podia ver a teias de aranha envolvendo os lustres e a balaustrada da escada até o andar superior. Mais alguns passos e eu poderia ver o piano. Quando o localizei, junto à parede norte da sala, quase não o reconheci de imediato. O piano de meu pai estava sempre em perfeito estado de conservação, sempre imponente na grande sala branca, destacando-se em seu pretume lustroso. Agora, estava coberto por uma grossa camada de pó que o deixou acinzentado e de aparência decadente. Ouvi Jacob se afastar, adentrando na parte oposta da sala, de onde se podia ver a sala de jantar e a entrada da cozinha. Segui totalmente focada no que vim averiguar, todo o resto transformando-se num borrão indistinto. Afinal, eu sabia onde estava – onde supostamente deveria estar – o bilhete endereçado a mim.
***
- Jake. – Foi tudo que consegui extrair de minha voz. Um sussurro fraco e sufocado. Era tudo que eu podia fazer, enquanto sentia todo meu corpo congelar. Apesar do choque, eu consegui identificar os sintomas: outra visão. Não tão nítida como a primeira, mas decididamente uma visão. A parte consciente de mim podia ouvir os passos apressados de Jacob, vindo a meu encontro. Mas a maior parte estava tentando encontrar alguma coesão nas imagens que explodiam em minha mente. Forcei toda minha concentração naqueles flashes. E então eu pude entender o que significavam – o que queriam me dizer. Eu vi uma floresta, densa e iluminada. Não pude ver o céu, mas a luz que irrompia das árvores no alto, era clara e forte – raios de sol demais para Forks em seu melhor dia. O mais estranho na cena era o modo como eu a via, parecia mais uma lembrança do que qualquer outra coisa, por que era através de meus olhos que eu via a floresta, não havia mais ninguém ali. Poderia ser muito bem apenas uma lembrança minha, correndo pela floresta num dia ensolarado. Mas minha memória era tão boa quanto qualquer outra em nossa espécie, praticamente impecável. E eu sabia – tinha certeza – que o que eu via, não era uma lembrança minha. Ademais, olhando mais atentamente, eu pude sentir a urgência nos passos da pessoa que corria, então eu soube. Alguém estava fugindo.
As mão quentes de Jacob me alcançaram no canto escuro, encolhida junto ao piano de meu pai. Eu pressionava minhas têmporas, tentando impedir que elas explodissem. Os flashes difusos me chicoteavam com uma força avassaladora. Eu não conseguia pensar, não conseguia encontrar uma saída em minha própria mente. Sentia que a qualquer momento meu cérebro iria rachar. De início não havia som, apenas imagens de lugares e pessoas que eu nunca tinha visto. A imagem predominante era sempre a da floresta, por onde alguém corria desesperada, fugindo de um atacante invisível. Tentei escutar as vozes ao fundo, mas não consegui distinguir nenhum som coeso. Então, tudo pareceu baixar o volume, ficando para traz e sumindo em algum canto de minha mente. As imagens desbotaram, como se alguém tivesse jogado água em uma tela fresca. Quando quase tudo havia silenciado e as imagens se apagavam lentamente, uma única voz ressonou em meus ouvidos, como se alguém sussurrasse para mim o que eu não consegui enxergar. Zafrina.
Abri os olhos e me coloquei de pé num salto. Jacob estava sentado no chão, a três metros de mim, os olhos arregalados. Sua postura era tão estranha, que se eu não soubesse que Jacob era tão ágil quanto eu, eu teria imaginado que ele simplesmente caiu de costas. Olhei-o mais atentamente, queria contar tudo que tinha visto – e ouvido. Mas sua expressão era tão chocada, que vacilei em minha aproximação. Ele devia estar assustado, afinal, eu não parecia uma pessoa muito confiável quando tinha aqueles ataques. Me aproximei lentamente com a mão estendida para ele. Queria mostrar que estava tudo bem agora, mas nem bem andei três passos e Jacob estava de pé, me encarando com um misto de preocupação e entusiasmo. Me senti aliviada, por um momento pensei que Jacob estava com medo de se aproximar de mim. Estendi minha mão até seu rosto, queria mostrar a ele tudo que vi, mas antes de tocá-lo ele segurou minha mão. Olhei atônita para ele, por que ele não me deixava mostrá-lo o que aconteceu? Ele estava fugindo de meu toque pela primeira vez na vida.
- Não precisa me mostrar Nessie, eu vi tudo. – Jacob me encarava sério. Uma expressão insondável atravessou seu rosto. Será que as visões tinham atingido ele também? O que estava acontecendo ali?
- Como? – Perguntei perplexa.
- Você me mostrou. – Jacob estendeu sua mão até meu rosto e o afagou, suas mãos ainda estavam ligeiramente trêmulas. – Você me atirou no chão quando tentei te ajudar, e antes que eu pudesse me levantar, você começou a transferir seus pensamentos para mim. – Ele dizia cada palavra com assombro e mágoa. – Por que não me contou que seus poderes estavam se desenvolvendo? É por isso que você tem estado tão nervosa ultimamente?
Eu o olhava com incredulidade, nada daquilo fazia sentido. Como eu poderia ter desenvolvido meus poderes sem saber? Vampiros não mudam com muita freqüência, mesmo eu, uma mestiça, depois de atingir o pleno desenvolvimento, iria paralisar no tempo. Nossos poderes eram muito aleatórios, imprecisos. Eram capazes de se desenvolver com os anos, mas – como nós – mantinham-se estáveis depois de certo tempo. Mas que certeza eu tinha? Pessoas como eu não eram muito comuns, mesmo no nosso mundo.
- Jake, não pode ser. Não pode ter sido eu. Eu precisaria te tocar, não sei como poderia te mostrar algo sem te tocar, eu… – As palavras sumiam à medida que minha mente vagava pelas possibilidades. De fato, eu nunca sentira nada tão forte. Quando tive a primeira visão, foi assustador e intenso, nítido demais. Mas agora, eu sentia que minha mente tinha sido espremida e depois esticada de forma que eu a sentia mais flexível – de maneiras desconfortáveis e irregulares – mas depois da dor intensa, apenas uma leveza que me era estranha tomou lugar em minha cabeça. Eu realmente não sabia se Jacob tinha razão, ou se alguém estava influenciando nossas mentes. O que poderia ser muito bem uma combinação dos dois. Jacob estava absorto em suas próprias teorias quando o puxei para fora da casa.
- O que foi Ness, onde você está indo? – Perguntou ele enquanto corríamos de volta para a estrada encoberta pela vegetação.
- Precisamos entender um pouco isso certo? Mas vai amanhecer logo, Billy vai se perguntar por onde nós andamos, e a última coisa de que preciso é que ele ligue para Carlisle. – Eu não tinha muito tempo. Se eu não voltasse com Jacob até o entardecer de domingo, minha mãe e meu pai viriam atrás de mim.
Não havia bilhete, mas eu tinha algo mais concreto com que me preocupar. Ao que tudo indicava, alguém estava deixando uma trilha de migalhas para mim, e a próxima – eu ainda não fazia idéia do por que – me levava até Zafrina.

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Capitulo 11- Fuga


Jacob andava de um lado para o outro, amassando folhas secas enquanto pensava. Tinha uma expressão concentrada e ao mesmo tempo sofrida, como se estivesse com dor de cabeça. Eu simplesmente me enrosquei num tronco de árvore e deixei minha cabeça vagar, na esperança de que ela talvez me desse algumas respostas. Eu tinha muito sobre o que debater e não conseguia achar uma luz em meio ao caos da minha mente. Comecei a repassar mentalmente os fatos, juntar tudo para ver se fazia algum sentido.
Eu tinha algumas certezas, independentemente se eram certezas muito instáveis. A primeira era a mais sólida. Tinha alguma coisa acontecendo – talvez não ali, em Forks – mas em algum lugar, por algum motivo, alguém estava tentando chegar a mim. Para quê, já era algo que estava além de meu entendimento. Se era para me alertar sobre algo, ou apenas para brincar com minha mente até que eu arrancasse a cabeça de alguém, eu não sabia. A segunda era ainda mais improvável e assustadora. De alguma forma o veneno de meu pai estava afetando meus sentidos, e isso incluía também minha capacidade de transmitir meus pensamentos. Algo dentro de mim se expandia silenciosamente e de modos tangíveis. Eu não sabia o que esperar disso e nem podia pedir ajuda para a única pessoa que poderia me dar algumas respostar – Carlisle. E finalmente, o fato de Zafrina estar ligada a tudo isso. A amazona amigável e atenciosa que conheci era talvez o último dos nomes que eu cogitaria por alguma razão. Desde o início – desde o primeiro sonho com Aro – eu sabia, poderia ter apostado que, o que quer que estivesse provocando aqueles pesadelos, estava diretamente ligado à ele. Mas Zafrina? Não, isso era inteiramente novo para mim. O que eu faria agora? Quando todas as peças estavam sobre a mesa e nenhuma delas fazia sentido algum? O que o futuro reservava para mim e para minha família? Eu nunca desejara tanto que Alice pudesse ver meu futuro, pelo menos ela poderia me apontar uma direção.
A madrugada estava fria e úmida, e um brilho perolado entrava timidamente pelas árvores. O Rabbit estava estacionado a poucos metros da entrada da casa dos Black. Todos ainda dormiam, exceto pelas aves que começavam suas atividades barulhentas pela floresta de La Push. O silêncio era opressor, me fazia desejar ouvir a voz rouca de Jacob, comentando sobre alguma coisa banal. Não queria pensar nos riscos, no perigo, nas escolhas que teria que fazer. A paz e tranqüilidade que senti por ter voltado para casa tinha se esvaído completamente de mim. Olhei Jacob encostado numa árvore, olhando além de mim, imerso em seus próprios pensamentos. Eu precisava ouvir sua voz.
- Jake venha até aqui. – Estendi a mão para ele, queria me sentir mais próxima da realidade segura que minha vida costumava ter. Ele me olhou nos olhos por um momento e depois caminhou lentamente até mim. Abracei-o. Era só o que eu precisava no momento.
Estava tão desesperada por algum consolo, que demorei a perceber que Jacob retribuiu um abraço morno, do tipo que se dá em sua avó idosa. Congelei. Eu tinha atacado Jacob pela segunda vez em uma semana e estava agindo como se nada tivesse acontecido. Eu merecia aquela punição, apesar de temê-la mais que qualquer coisa. Reunindo todas as forças que me sobraram, eu o encarei. Antes que eu pudesse perguntar algo, ou ler sua expressão ele falou.
- Nada vai mudar, não se preocupe. – Seu tom era um consolo sem emoção. Seus olhos o traíam, eu o conhecia bem demais. – Eu vou estar onde você estiver, enquanto você me quiser. Não importa quem você seja ou o que você faça. Eu só preciso que você confie em mim. Eu nunca vou deixar nada de ruim acontecer com você, mesmo que custe minha vida.
Eu queria revidar, dizer a ele que eu sentia muito e que realmente não entendia o que estava acontecendo, mas Jacob estreitou a distancia e me abraçou tão forte que eu senti que até meus pensamentos cederam a sua força. Mas não conseguia deixar de me perguntar o que eu faria se o perdesse? Se o que me espreitava no horizonte estivesse muito além de minha força, o que eu faria para protegê-lo?
- O que você acha que aconteceu lá? – A voz rouca de Jacob me arrancou de meus pensamentos angustiantes e eu o agradeci mentalmente por isso.
- Não sei Jake. As coisas ficaram muito mais estranhas. – Segurei a mão enorme e quente de Jacob, como sempre fazia quando estávamos sozinhos. – Quero dizer, o que Zafrina tem a ver com isso? Eu me lembro claramente dela, como costumava me entreter com suas ilusões enquanto mamãe aprendia a lutar. Apesar do jeito selvagem, ela era muito gentil, e…gostava de mim. – As recordações inundaram meus pensamentos. Simplesmente parecia impossível que Zafrina de repente ficasse entediada e resolvesse brincar com minha mente. E ainda assim, ela estava na América do Sul, seus poderes não se estendiam de tal forma e se ela estivesse planejando uma visita, Alice veria. Mais e mais peças que não se encaixavam.
- Isso está cada vez pior Ness. Primeiro seus pesadelos com os sanguessugas da Itália, depois as visões com o tal invasor e agora isso? – Ele parou, analisando minha cicatriz, e eu entendi. Ele estava se perguntando o mesmo que eu. Será que o veneno de meu pai estava me mudando? O que aconteceria comigo?
- Jake, eu acho que, quando meu pai me mordeu, sem querer… – Adicionei, olhando timidamente para Jacob, que cerrou os dentes. – Bem, acho que o veneno teve algum efeito sobre mim, afinal, eu não sou venenosa. Mas eu não posso ter certeza, não posso me basear em nenhum caso parecido. – Jacob estava sério, eu sabia que levaria uma bronca.
- Você não deveria ter entrado na briga. – Disse ele secamente.
- E o que eu deveria ter feito? Deixá-lo te matar? – Fechei a cara para ele.
- Acho que você está se esquecendo o que o veneno faz com mestiços, como eu e você. – A voz dura e fria de Jacob me atacou como uma bola de neve diretamente no rosto. Eu não podia contestar nenhuma de suas insinuações. Eu não tinha provas ou fatos nos quais me apoiar. Mas eu não conseguia me arrepender de ter impedido meu pai. Se eu não o tivesse feito, Jacob estaria morto agora. Se eu morresse, pelo menos seria mais lentamente, ainda teria tempo de descobrir o que estava acontecendo e proteger minha família. Pelo menos era com isso que eu contava. Um mestiço pelo outro. Se Jacob vivesse, estava bom para mim.
- Você não sabe disso. – Retorqui.
- Nem você. – Rebateu ele.
- Bem, eu não morri ainda.
- Não me peça pra ficar aqui esperando que aconteça. Se você piorar, eu vou ligar para o doutor. – Pelo tom de voz de Jacob, eu soube que a conversa tinha terminado. Não contestei. Eu tinha apenas que agir rápido, antes que qualquer coisa me impedisse. Tinha que ser capaz de lidar com isso, não podia deixar Jacob com a responsabilidade de ter encoberto meus planos, não podia deixar meu pai se martirizando por não ter conseguido se controlar. Não podia deixar minha família se culpando por não terem acreditado em mim. Nenhum deles tinha culpa. E eu estava justamente tentando descobrir de quem era – embora cada célula de meu corpo imortal gritasse a resposta.
***
Quando entramos na pequena sala-cozinha de Billy, o café da manhã estava cuidadosamente servido na mesa. Sue Crearwater estava junto a pia, mexendo ovos em uma tigela. Seth estava esparramado no sofá, entretido em uma conversa sobre uma partida de baseball com Billy. Jacob sentou-se a mesa e começou a encher uma vasilha de cereais e leite, enquanto comia um generoso pedaço de bolo de fubá. Fui me sentar no sofá minúsculo que ficava ainda menor com Seth todo esparramado. Esperava estar sendo convincente o suficiente em minha encenação de descontração, e desejava loucamente que Seth não fizesse perguntas sobre onde eu e Jacob estivemos na noite passada. Foi então que Billy pareceu lembrar-se de algo.
- Ah, Nessie. Seu pai ligou hoje bem cedo, queria falar com você. Eu disse que você e Jake estavam na floresta, provavelmente caçando. Ele mandou dizer a você que sente muito e que assim que puder, que você ligue para ele. – Billy baixou o livro e me encarou sob as sobrancelhas grossas e negras. Senti-me feliz por meu pai estar falando comigo novamente, reconhecendo seu erro. Mas algo na expressão de Billy não deixava que eu me sentisse aliviada. Agradeci com um aceno de cabeça e um sorriso enviesado e sem graça.
- E… ele disse que estão pegando um avião hoje a tarde para Seattle, disse que estão vindo para Forks. – Pela visão periférica eu pude ver Jacob congelar na mesa. Billy estreitou ainda mais os olhos, visivelmente desconfiado com a visita inesperada. Sue e Seth pareceram alheios as desconfianças de Billy e as reações de Jacob. Tentei manter minha expressão o mais leve e descontraída possível quando falei.
- Hum… Que ótimo. Charlie vai gostar da notícia. – Olhei sugestivamente para Jacob.- Obrigado Billy, acho que vou avisá-lo agora mesmo. – Me levantei calmamente, lutando com o impulso de sair correndo daquela sala minúscula e do olhar desconfiado de Billy.
- Vou com você. – Jacob empurrou em um gole só o restando do cereal, derramando leite no peito nu. Estava quase na porta quando Billy o chamou.
- Jake ponha uma roupa. Charlie vai acabar te prendendo qualquer dia desses por atentado ao pudor. – Billy continuou fingindo estar entretido com seu livro.
- Ah, é. Ness, me espere no carro. Vai levar só um segundo. – Ele me lançou um olhar severo quase como se dissesse alto e claro: “Não ouse sair sem mim moçinha”. Acenei para ele e me despedi de Sue, Seth e Billy com um até mais e saí para a orla de árvores que ladeavam a garagem improvisada de Jacob. A uns cinqüenta metros, caminhando despreocupadamente em direção a casa dos Black, estava Emily e seu filho, Henry. Ela o trazia aninhado no colo, mostrando ao garoto as aves no alto das árvores. Acenou para mim quando me viu, eu acenei de volta e me perguntei se seria muita falta de educação se eu entrasse na garagem e me escondesse dentro do carro. Não estava com cabeça para conversas, eu precisava dar o fora dalí antes que meu pai chegasse com o resto da família e descobrisse o que estava acontecendo. Respirei fundo e fui ao encontro de Emily.
- Bom dia Nessie. – Ela sorriu, seu rosto arruinado se contorcendo ligeiramente.
- Bom dia Emily, como está seu lobinho? – Sorri de volta e torci para que parecesse convincente.
- Está mais agitado que nunca. – Ela sorriu ainda mais largamente enquanto olhava o rostinho redondo e moreno do garotinho em seu colo. – Tive que trazê-lo para tomar um ar, antes que ele destruísse minha casa e acordasse o Sam.
- Hum, as patrulhas noturnas realmente acabam com eles. – Tentei participar da conversa, mas minha voz soava distante. – Jacob vivia dormindo pelos cantos. – Olhei para trás mais vezes do que pretendia, implorando para que Jacob andasse logo.
- Onde está o Jake? – Perguntou Emily, percebendo meu desassossego.
- Foi vestir uma roupa, estamos indo visitar Charlie. – Olhei mais uma vez para a entrada da casa.
- Hum…e como vai sua mãe? Faz muito tempo que não a vejo. – Emily parecia convencida em puxar assunto.
- Ah está ótima. – Tentei relaxar, conversar calmamente com Emily. Afinal, eu não sabia quando voltaria a vê-la – nem se voltaria.
- Hum, mande lembranças a ela. – Ela sorriu mais uma vez e eu retribui. De repente algo em que estive pensando tornou a invadir minha mente. Algo que tinha sido eclipsado por pensamentos mais preocupantes, mas que era igualmente perturbador. Sem pensar muito se deveria ou não, perguntei.
- Emily, você acha que sou certa para ele? – Não pude deixar de perguntar – e de me envergonhar com a pergunta. Era uma oportunidade que eu não teria novamente. Saber o que Emily pensava sobre Jacob e eu. Ela não era minha família, era um indivíduo externo, seria imparcial. Ela se surpreendeu com a pergunta, mas ponderou por um instante e disse.
- Sabe de uma coisa Nessie? Eu nunca presenciei uma história tão absurda em minha vida. – Ela me olhou ternamente, seus olhos repuxados para baixo pelas cicatrizes, cintilaram em mim. – Quando sua mãe chegou aqui, ela estava visivelmente doente. O amor que ela sentia por seu pai não era algo racional. E quando percebemos o nível de envolvimento dela com Jacob, ficamos todos muito preocupados. Por que era uma batalha perdida para ele. Quando seu pai foi embora, bom, todos tivemos um pouco mais de esperança, mas eu sabia que ela nunca amaria Jacob como amava seu pai. Era estranho por que, Jacob não se importava com nada. Ele passou por cima de tudo sabe, como se estivesse sendo arrastado por uma força invisível, como se fosse obrigado a estar onde Bella estivesse. – Ele parou por um segundo, absorta em suas próprias lembranças. – Quando você nasceu, a matilha estava dividida. Jacob virou as costas para seus próprios irmãos para proteger Bella e você. Todos ficamos muito chocados com isso. Mas quando Jacob apareceu aqui, dizendo que tinha sofrido imprint com você, bem, tudo se encaixou, pelo menos pra mim. – Ela sorriu e acariciou meu ombro. – A coisa que prendia Jake à sua mãe não era o amor que ele tinha por ela, e sim o que sentia por você. Nessie, ele te amava antes mesmo de você nascer. Todo sofrimento, toda decepção, tudo pelo qual ele passou foi apenas o preço. Você estava no destino de Jacob assim como seu pai estava no destino de sua mãe. Um destino improvável e inacreditável, eu creio. Mas todos nós temos coisas inesperadas em nossas vidas, veja eu e Sam. – Ela balançou a cabeça, tentando se desvencilhar de seus próprios pensamentos. Eu poderia imaginar quais eram. Leah.
- Bem, é um ponto de vista. – Sorri para ela. - Obrigada Em. Eu tinha razão em pensar que Emily me daria sua opinião verdadeira. E era algo em que eu gostaria de acreditar. Tornava tudo mais fácil para se encarar. A perspectiva de que eu era o destino de Jacob, e não apenas seu prêmio de consolação, era algo mais fácil de lidar. Eu queria dizer a ela que eu desejava ser tão certa para Jacob quanto ela era para Sam, ambos tão felizes com sua vida – e com seu bebê. Mas quando abri a boca para falar, senti passos apressados vindo em minha direção, e o cheiro quente e amadeirado de Jacob correu com a brisa leve da manhã, misturando-se com o cheiro da terra molhada e das árvores da floresta. Inspirei fundo o aroma que eu mais gostava no mundo. Olhei para Emily, que acompanhava a aproximação de Jacob com um aceno contente.
- A gente se vê Emily. – Estendi a mão para ela. Ela apertou levemente e sorriu.
- Até mais Nessie.
- Hey, e aí Emily, como está esse meninão. – Jacob vinha sorrindo, tinha vestido um jeans, uma camiseta preta e uma jaqueta de couro preto. Prendeu os cabelos num rabo de cavalo.
- Estava justamente falando para Nessie que hoje ele está impossível. – Ela sorriu, cumprimentando-o. O garotinho se agitou no colo da mãe, estendendo os braços para Jacob.
- Há há, ele quer vir comigo Em. O garoto gosta de mim. – Os olhos de Jacob brilhavam, deliciando-se com o entusiasmo do menino. Não pude deixar de sorrir, vendo Jacob jogar o menino pra cima e fingir um avião com o corpinho rechonchudo do bebê, que soltava uma risada gostosa toda vez que Jacob o balançava no ar.
- Jake, o garoto vai vomitar. – Eu toquei a base de suas costas. – Vamos, temos que ver Charlie. – Disse audivelmente, alimentando meu álibi.
Nos despedimos de Emily e caminhamos para o carro. As velhas preocupações preenchendo novamente o ar. Olhei para Jacob enquanto percorríamos as estradas de La Push e falei.
- Precisamos encontrar Zafrina, Jake. – Disse num sussurro tristonho.
- Eu sei. Sem despedidas. – Ele me olhou, seus olhos castanhos demorando-se em meu rosto. – E para onde devemos ir? Para o sul?
- Eu não sei ainda. Mas não podemos mais ficar aqui. Meus pais não podem saber. Ainda não. – Retribuí o olhar. Eu tinha que tomar cuidado, era fácil se perder naquele mar castanho escuro.
- Eles vão saber logo. Meu pai já está desconfiado que algo está acontecendo. Ele pode alertar o Sam. – Ele falava baixo e cadenciadamente, absorto em nosso momento de contemplação mútua. Eu sorri.
- Jake, a estrada. – Sustentei o olhar.
- Somos indestrutíveis. – Ele sorriu malignamente e levantou uma sobrancelha.
- O Rabbit não. – Ele suspirou e relutantemente voltou sua atenção para a estrada. Pegou minha mãe esquerda e beijou. – Para onde Ness?
Estávamos na saída para a rodovia. Precisávamos tomar um caminho agora. Respirei fundo e fechei os olhos, me concentrei nas imagens mais distinguíveis que pude ver em minha última visão. Uma após a outra elas dançaram por minha mente. Jacob assistia a todas elas comigo, apertava minha mão forte, como se estivesse tentando melhorar a recepção. De repente, tão abruptamente que me fez pular no banco, Jacob gritou.
- Pare. – Eu abri os olhos e o encarei.
- O que foi Jake? – Perguntei.
- Eu conheço um desses lugares que você me mostrou. – Disse ele, os olhos arregalados de subida compreensão. Me concentrei novamente, e repassei todas em câmera lenta. Jacob murmurava “não” a cada uma. Então, ele enrijeceu e disse.
- Essa. – Seus olhos estavam desfocados pelas imagens em sua cabeça. Prendi a respiração. A floresta iluminada e densa se estendeu em minha mente. Cessei as imagens e as substitui por um “Como?”. Jacob me olhou calmamente e colocou o carro em movimento novamente, manobrando para o lado oposto.
- Já estive lá. Quando fui embora daqui, na época do casamento de sua mãe e seu pai. Eu não prestava muita atenção aonde ia, mas eu me lembro de caçar nessas terras. – Ele estava sério, olhava a estrada com uma atenção maior do que o necessário. – É Vancouver. Pelo amor de Deus, o que uma amazona está fazendo em Vancouver?
Essa foi a pergunta que pairou no ar durante toda a viagem. Como se eu precisasse de mais perguntas.

11 de mar. de 2010