Quando nós perdemos o controle, tudo fica vermelho. Tudo vira um infinito de instinto e sensações. Frio, calor, sede, barulho, cheiros, raiva, defesa, ataque, fuga. Qualquer coisa que não esteja entre estas coisas vira um emaranhado de borrões indistintos, e nós ficamos temporariamente incapazes de pensar; a ação e a emoção predominam sobre todas as outras coisas. O raciocínio coerente se esvai, dando lugar à fera que espreita o tempo todo por baixo da superfície civilizada, querendo satisfazer suas necessidades, até conseguir satisfazê-las.
Naquela circunstância não foi um sentimento conhecido e comum que me tirou o controle. Foi algo com o qual eu não estava acostumado a lidar, e que vinha tentando negar sistematicamente nos últimos meses, desde que os momentos a sós com Bella tinham se tornado uma constante: o desejo por ela. Desde que eu a conhecera e descobrira que ela correspondia aos meus sentimentos que eu lutava o tempo inteiro contra a vontade de tocá-la, de sentir meus lábios sobre sua pele. Mas com o passar do tempo, quando eu finalmente aceitara sua presença em minha vida e passara a procurar, aceitar, não temer seu toque, aquilo já não era suficiente para saciar a vontade de tê-la inteiramente. Era sempre com muito esforço que eu me afastava, sempre com uma dor física quase insuportável. Nesses momentos eu tinha medo da reação do meu corpo, que agia de formas inesperadas. Ela sofria muito com aquelas rejeições, mas eu não podia me deixar levar, simplesmente não confiava em mim o suficiente.
Já tinha sido bastante difícil segurar todos os impulsos que haviam me assolado naquela noite, quando eu tomava a maior parte das iniciativas, tentando manter a situação sob controle minimamente, e nisso sua timidez me ajudava. Porém quando ela assumiu o controle eu pude apenas me deixar levar pelo seu toque, e torcer para que eu fosse mesmo merecedor de toda aquela confiança. Não imaginei que ela fosse tão longe; quando começou a me provocar, a me tocar de forma tão entregue, meu corpo reagiu sozinho como sempre, e o pensamento começou a se nublar.
Confesso que tentei resistir um pouco, porém os segundos iam se passando, e a intensidade do toque ia me levando cada vez mais para longe de tudo que não era ela... E todas as proteções de minha mente caíram, todas as precauções, hesitações. Quando dei por mim estava dentro dela, sentindo seu corpo ao redor do meu, me aceitando, me enchendo de calor em todas as partes, me pressionando. E ouvi o eco de um gemido de dor. Foi apenas por isso que consegui parar, porque meu corpo queria continuar se movendo dentro dela, cada vez mais forte, cada vez mais rápido, até que eu explodisse em sensações, calor e prazer. Tudo era desconhecido, eu não sabia como aquilo funcionava em meu organismo, só o que eu sabia era que tinha uma vontade não saciada de esquecer resto do mundo e me afundar na mulher que era minha. Não importava quantas vezes eu ouvira falar sobre aquilo, ou lera nos pensamentos alheios. Nada tinha me preparado para aquela sensação de abandono pleno em meu corpo e em minha mente.
Sem perceber eu havia enfim quebrado a última barreira, e quando compreendi o que havia acontecido a princípio não soube o que fazer. Fiquei estático, imóvel, tentando entender o que havia acontecido, e como, sem conseguir me lembrar. Senti que as preocupações e culpas ameaçavam voltar com toda a força, e lutei contra elas; ela queria, eu queria, e eu sabia que ela queria que eu vivesse aquele momento com a mente e o coração inteiros e não parcialmente, cheios de hesitações. Empurrei as racionalizações para longe com mais um movimento firme do meu corpo contra o dela, e pela primeira vez pude me deliciar de forma consciente com as sensações que aquele momento me proporcionava. Era tudo tão novo que não sabia descrever com palavras. Mas era como a maré subindo; onda, fluxo e refluxo, sempre inundado de calor; a cada ir e voltar subindo mais longe, chegando mais perto de algo ainda indefinido, mas sentindo que o algo aumentava a cada retorno, a cada onda, numa espiral crescente de agonia e de prazer. Senti o cheiro sempre avassalador de seu sangue, mas ele não causou em mim o efeito que eu temia. De alguma forma o desejo superava a sede, e eu só conseguia continuar o que estava fazendo, invadindo seu corpo repetidas vezes, como se estivesse marcando minha presença dentro dela, tornando-a realmente minha.
Entrelacei minhas mãos nas dela, segurando-a firme contra a cama, e experimentei mudar um pouco o peso e a forma com que eu me movia; testando os movimentos com cuidado para não machucá-la. Ela se ajustou a mim prontamente, apertando minhas mãos com força. Eu ainda estava envergonhado pela minha falta de controle, e por ter perdido aquele momento inicial mergulhado em desejo, e prolonguei aquele primeiro reconhecimento dela, ouvindo o ritmo de seu coração, de sua respiração, sentindo as mudanças no seu cheiro, que se misturava com o meu.
Depois de alguns momentos imerso em meus pensamentos e descobertas, procurei seus olhos. E encontrei coisas que nunca havia visto antes. Como se ela tivesse envelhecido, amadurecido apenas naquele contato, naquela invasão. Agora ela era minha mulher, e se sentia assim. O sentimento de pertencer a alguém plenamente a transformara de alguma forma que eu não compreendia, e talvez esse fosse um mistério reservado apenas às mulheres, do qual até então eu nunca fizera parte, e talvez nunca compreendesse plenamente. Ela gemeu baixo enquanto eu explorava devagar as melhores formas de me encaixar nela, alternando velocidade, força, ritmo, e eu senti uma explosão em meu peito, uma alegria misturada com paixão que beirava a insanidade. Ela era minha, completamente. Era minha companheira, viajava comigo naquela loucura, e estávamos ambos inteiros, até agora. Muito melhor do que eu previra. Depois de saciar a curiosidade inicial – e eu ficava olhando para ela, prestando atenção em suas reações, e ela ainda conseguia ficar ruborizada – comecei a misturar estímulos, sem me separar dela, com os lábios e as mãos passeando por todo o seu corpo, por todos os pontos sensíveis, e rapidamente os gemidos baixos se tornaram altos, e em alguns momentos gritos de surpresa, quando eu fazia algo de inesperado. Eu me guiava por seus gemidos e suas respostas, as batidas do coração, o ritmo da respiração, e ia navegando num mar estranho e desconhecido, sem uma direção única a seguir, flutuando ao sabor das ondas, me deixando levar pela maré. Percebi que em alguns momentos ela parecia prestes a dizer alguma coisa, e depois mudava de idéia. Eu ficava mordido de curiosidade, triplamente mortificado por não conseguir acessar seus pensamentos, porém não tinha coragem de quebrar o encanto do momento com perguntas ou palavras. Palavras eram desnecessárias. Meu corpo dizia tudo, e o dela respondia, numa dança lenta, hipnótica, antiga como o mundo. Aqui ela não era nem um pouco desajeitada; era uma amante habilidosa e natural. Eu percebia isso pela forma com que ela se abandonava ao instinto, sem cálculos, sem complicações, uma vez superada a maior parte da vergonha.
Quando percebia que ela estava excitada demais eu diminuía os movimentos até parar, deixando que ela se controlasse. Os protestos que ela fazia quando eu parava só aumentavam meu desejo de prolongar tudo, sabendo que quando ela atingisse o clímax novamente ele viria com muito mais força. Tentei ajustar o ritmo dela ao meu, conduzindo com paciência seu corpo em chamas, mas era difícil; ela se abandonava com mais ímpeto, e às vezes eu tinha que chamá-la em voz baixa, acalmá-la, trazê-la de volta ao meu ritmo.
“Comigo, Bella, não contra mim”, sussurrei em seu ouvido quando ela se moveu freneticamente contra meu corpo para alcançar a satisfação que eu estava lhe negando. Ela ofegou e abriu os olhos, mostrando mais uma vez aquela coloração escura que denunciava a extensão de seu desejo. Ela me abraçou com força e retribuí o abraço, ao mesmo tempo em que separava meu corpo do dela, e a virava de costas para mim, de lado, para mais uma vez preenchê-la, e retomar a exploração.
Não sei como consegui prolongar aquilo por tantas vezes; sabia que era uma tortura para ela, bem como para mim, mas o controle vinha fácil nos momentos em que ela beirava o êxtase, e se esvaía nas horas em que eu me aproximava. Nessas horas eu me esquecia quem era, e existia apenas o meu corpo entrando e saindo do dela, seu cheiro, seu hálito, seu sabor, sua pele contra a minha, o calor que dela emanava continuamente, apagando o frio do meu corpo. Algumas vezes, quando eu voltava desses estados de ausência, tinha que me certificar de que não a havia mordido ou machucado sem perceber, e ela estava sempre inteira, linda, com a expressão transtornada de prazer, os olhos fechados, como se estivesse também em outro mundo secreto, os lábios inchados pelas mordidas que eu lhe dava. Fui adquirindo confiança, e me deixando levar por mais vezes, permitindo que o caçador que eu era se revelasse. Minha natureza não precisava mais ser negada, eu estava fazendo exatamente o que meu instinto exigia. A expressão “brincar com a comida” passou rapidamente pela minha mente, me provocando um sorriso involuntário. Não deixava de ser uma forma de ver a situação, por menos romântico que fosse. E de certa forma era uma caçada, mas o objetivo final não era alimento e não precisava terminar em morte.
Perdi a noção do tempo e de tudo que fiz enquanto ia aprendendo com ela o que era a satisfação que eu tanto buscara. Só sei que nos deixamos levar pela vontade dos corpos, provando, descobrindo novas formas de encaixe, novas sensações. Por mais duas vezes eu me aproximei do descontrole, quando cheguei muito próximo do êxtase, e na terceira vez tudo se apagou, quando a onda enfim chegou ao limite mais rápido do que eu previa e quebrou numa nuvem de espasmos do meu corpo sobre o dela, e eu me senti esvaziar, rápido e devagar, pulsando, até que eu não era mais Edward Cullen, eu era apenas um ponto suspenso num mar feito do cheiro e do calor dela. Eu estava vivo novamente. Não havia mais frio, nem poderes sobrenaturais, nem sede de sangue. Eu não era mais o predador, eu apenas existia, simplesmente, e era feito inteiramente de eletricidade. Eu não sabia como ela estava, se tinha chegado ao mesmo ponto junto comigo, se estava inteira ou em pedaços devido à força de meu abraço, de minhas mãos apertando suas costas, seus braços, mas também não conseguia pensar. Havia apenas o bem-estar. Pela primeira vez desde que me tornara um vampiro eu apaguei tudo. Minha mente não existia. A inconsciência se abateu sobre mim, e se eu tivesse um coração batendo acredito que ele pararia por alguns instantes, enquanto tudo estava suspenso. Depois houve apenas paz.
Voltei um pouco assustado, como quem acorda de um sono leve, as percepções voltando todas ao mesmo tempo, pouca luz, as velas derretidas nos candelabros, algumas já apagadas, o cheiro intoxicante de suor e sexo que vinha de Bella, os barulhos da noite, o calor do ar da ilha, o calor do corpo dela, os lençóis um pouco úmidos embaixo do meu corpo, as pontas dos meus dedos formigando, o pulsar estável de seu coração, a respiração rítmica e tranquila. Ela estava me olhando, serena, os olhos novamente cor de chocolate, com a expressão um pouco cansada. Ela ergueu a mão em um movimento suave e passou pela minha testa, e sorriu levemente. Quando ela falou, sua voz traía a exaustão, mas o sorriso em seu rosto apagava todo o resto.
“E você querendo me negar isso tudo...?” Havia brincadeira e provocação na voz, e um pouco de censura.
Abracei-a de leve, colocando seu rosto em meu peito, aninhando o corpo dela junto ao meu.
“Bella... Você sabe que eu não podia ter certeza. Não vamos começar com isso de novo.”
“Desculpe, Edward.” Notei o tom constrangido de sua voz e a apertei com mais força. “Era uma espécie de brincadeira.”
“Eu sei, meu amor. Mas você realmente não devia brincar tanto com essas coisas assim.” Não consegui evitar o escorregar de minha mão por suas costas. Na verdade eu não queria evitar, mas queria dar tempo para ela se recuperar de tantas coisas. Ela se contraiu toda sob meu toque.
“Alguma coisa errada?” Virei seu rosto para mim, procurando um sinal de algo errado. Já estava começando a ficar tenso novamente.
Ela ficou vermelha. Muito vermelha. De novo. Não entendi muito bem o porquê. Ela estava envergonhada do que havíamos feito, ainda? De quantas maneiras ela ainda conseguiria me surpreender?
“Não, nada errado... É que...” A vermelhidão conseguiu se intensificar ainda mais. “Você parou e eu ainda não tinha... Você me fez perder o ritmo e eu...” Ela não conseguiu terminar a frase, mordendo o lábio, lindamente envergonhada, os olhos baixos.
“Por isso que você reagiu assim quando eu toquei suas costas?” Eu ia descobrindo como o corpo dela funcionava, maravilhado.
Ela acenou com a cabeça. Eu fiz com que ela virasse na cama, deixando as costas ao meu alcance. Percebi a tensão dos músculos quando a toquei, mesmo de leve. Um sorriso veio involuntariamente a meus lábios. Então ela ainda estava com milhares de estímulos agindo sobre seu corpo, condensados. Eu não conseguiria dizer, pela calma que emanava dela. Acariciei suas costas com a ponta dos dedos, começando no centro e subindo até a nuca, por sob o cabelo desalinhado.
Agora que eu estava mais controlado, era maravilhoso poder observar as reações instantâneas que meu toque causava nela inteira, cada músculo que se contraía, cada arrepio na pele. Desci com os dedos, tocando-a de leve, despertando novamente seu corpo, e sentindo que o meu respondia da mesma forma. Fiquei surpreso com a facilidade com que o desejo renascia e tive certeza que eu nunca me cansaria dela. Quando ela estava mais uma vez ardendo, me deitei de costas e puxei seu corpo sobre o meu, me encaixando dentro dela num movimento súbito e inesperado. Minha boca estava sobre a dela, e abafou um gemido alto, ao mesmo tempo em que ela buscava ar. Gostei do acesso que tinha ao seu corpo, e aproveitei o melhor que pude, provocando, tocando, buscando dar a ela a mesma satisfação que eu atingira antes.
Dessa vez não prolonguei os movimentos, atingindo um crescendo rápido e sustentado, sempre guiado por suas respostas às minhas iniciativas. Em um determinado momento, no entanto, não consegui continuar, e parei novamente. Estava curioso. Queria descobrir o que ela queria, seguir o ritmo dela e não o meu. Fiquei imóvel sob seu corpo, e ela gemeu novamente em frustração. Senti seus punhos se baterem contra meu peito sólido, depois ela me abraçou forte, e começou a se mover contra mim, primeiro de forma hesitante, depois com mais desenvoltura, retomando o ritmo que eu havia desfeito, porém de forma mais errática, irregular, como se obedecesse a algum comando invisível que regulava sua velocidade, seu tempo. Em meus pensamentos seu ritmo virava uma melodia deliciosa e irreproduzível. Quando senti que ela estava à beira do êxtase, segurei seu corpo mais uma vez, parando seus movimentos. Ela deixou escapar entre os dentes um gemido baixo de protesto, mas antes que ela pudesse reagir eu girei o corpo, imprensando o dela sob o meu mais uma vez, e acelerei o ritmo, sentindo que eu também estava mais perto de explodir novamente do que havia percebido.
Coordenei meus movimentos com os dela, e em poucos segundos estávamos ambos ofegando, eu escutava sua pulsação subindo cada vez mais rápido, e seu corpo se contraindo. Já estava familiarizado com os prenúncios que seu corpo mostrava, e dessa vez não parei mais. Ela gemeu cada vez mais rápido contra meu pescoço, e eu senti, no momento que ela alcançou o ponto mais alto, seu coração perder uma batida. Depois disso ela era pura pulsação ao meu redor, me apertando, e eu quase conseguia sentir a eletricidade correr por seu corpo e chegar ao meu. Minha própria consciência estava oscilando, e antes que tudo se apagasse mais uma vez – e o prazer dela sempre alimentava o meu duplamente – eu chamei seu nome. Ela abriu os olhos, e pude ver o momento de abandono total que ela atingira, um pouco antes de eu afundar mais uma vez no escuro de seu corpo, e de sua imensidão.
(continua...)
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