Seus braços estavam enroscados ao meu redor, me apertando contra ele, verão e inverno. Parecia como se cada terminação nervosa do meu corpo fosse um fio elétrico.
“Para sempre”, ele concordou, e então nos puxou gentilmente para águas mais profundas."
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Isabella Swan. O nome dela rodava em minha mente, inúmeras vezes, como se um bando de mariposas se chocasse contra uma luz invisível. Por fora eu estava calmo, mas por dentro os pensamentos se agitavam. Ela era minha esposa. Se entregara a mim de uma forma que pertencia somente a ela; integralmente, apesar de tudo que nos separava. E agora estava disposta, mais do que isso, ansiosa para entregar a única coisa que eu relutava ainda em lhe tirar. Era tão difícil resistir. Eu queria me deixar levar pelo desejo, abraçá-la, tocá-la, afundar meu corpo no dela; sentir o calor que emanava dela, fazê-la sentir o prazer que ela queria sentir, que eu queria sentir, e muitas vezes essa necessidade apagava todas as outras coisas. Mas era nesse momento de abandono que a sede por seu sangue voltava tão forte quanto nas primeiras vezes. Aquilo me enchia de medo. E se eu não conseguisse me controlar? Ela era tão frágil. E tão teimosa. Não podia esperar. E eu não podia lhe negar nada. Não depois de tudo que ela sofrera por mim. Assim, tomei todas as providências que podia. Estava alimentado. A ilha nos daria a privacidade necessária e a beleza que ela merecia para emoldurar aquele momento. Queria que tudo fosse perfeito, inesquecível, mas ainda tinha medo. E sabia que ela poderia ficar magoada facilmente caso se sentisse rejeitada. Bella... Ainda não entendera que para mim não existia perfeição além dela.
Tudo isso se passava em minha mente enquanto a esperava, dentro do mar. A temperatura era agradável, quente. Estava consciente de tudo: do mar prateado pelo luar; do calor do ar úmido; dos ruídos da noite, dos grilos e insetos tropicais, os pequenos animais que evitavam aquela região da praia, percebendo a presença do predador. Porque Bella não conseguia perceber isso da mesma forma? Ainda me perguntava isso todos os dias, admirado com sua coragem, encantado com sua força e ousadia. Ao longe ouvia os sons que ela fazia na casa. Ouvi quando se arrumou, os golpes lentos e rítmicos da escova em seus cabelos, o barulho da água na torneira, depois o chuveiro ligado. Ouvi seus passos quando se aproximou de mim, trazendo o cheiro marcante, doce e vivo que eu tanto amava, quando entrou na água e se aproximou devagar. Podia sentir a água formando pequenas ondas com a movimentação do seu corpo. Podia ouvir sua respiração se acelerar um pouco, como sempre se acelerava nos momentos de desejo e tensão. Senti vontade de sorrir, mas estava muito tenso com o que estava prestes a acontecer. Continuei de costas para ela, as mãos flutuando na linha da água, esperando que ela tomasse o primeiro passo. Que nos levaria para o desconhecido. E eu tinha certeza que ela não hesitaria. Logo ela ficou imóvel, muito próxima. Eu estava olhando para o céu estrelado, tentando me concentrar. Podia sentir o calor emanando dela também em ondas. Eu sempre ficava muito consciente de sua presença, fosse pelo calor, fosse pelo cheiro intenso. Mesmo assim, quando ela colocou sua mão quente sobre a minha, fria, o mundo se tranferiu para aquele ponto onde nossos corpos se tocavam. Se era assim o simples toque de sua mão, diante de tanta expectativa, o que não seria o resto? Será que enfim poderia conhecer o êxtase do qual tantas vezes ouvira ao longo dos anos? Medo e desejo se misturaram, deixando minha garganta seca.
“Linda”, ela disse, ao perceber que eu olhava para a lua, com sua voz grave e um pouco rouca, mas também era como cristal, com um mínimo toque de ansiedade. Ela também estava com medo. E também não sabia o que esperar. Isso não facilitava as coisas.
“É bonito”, repondi, tranquilamente, escondendo a tensão, fingindo uma indiferença que eu não sentia. Era o melhor que poderia fazer no momento. Me virei para olhá-la e vi, com uma certa surpresa, que estava nua, os braços cruzados defensivamente sobre os seios, a postura tímida. O luar deixava sua pele pálida e iridescente, causando um contraste indescritível com os cabelos castanhos. Os fios caiam em mechas pelos dois lados do pescoço, emoldurando o rosto. Os olhos estavam expressivos, e vi o brilho nas profundezas escuras que eu tanto amava: amor, desejo, medo, hesitação, expectativa. Como eu poderia corresponder a tantas coisas? Mas ela me olhava em adoração. Eu não tinha como resistir àquele olhar.
“Mas eu não usaria a palavra linda, não com você aqui para comparar”. Era verdade. Sempre foi. Ela ergueu a mão, ainda um pouco timidamente e a levou até meu peito, enquanto sorria. O toque de seus dedos, de sua palma, queimava minha pele, causando uma explosão de calor. Correntes elétricas se espalhavam pelos meus braços até a ponta dos dedos. Seu toque sempre me desconcertava, me levava a um estado de tensão e bem-estar incomparáveis. Ela era fogo para mim. A vida que eu não tinha mais. Senti minha respiração se alterar contra minha vontade, meu corpo estremecer lentamente. Seu cheiro tinha se tornado mais intenso, mais delicado, mais saboroso. Ela ainda era um mistério para mim.
Tantas sensações aumentaram minha prontidão, meu corpo se enrijeceu minimamente. Ela pareceu notar. Aproveitei o momento para tentar mais uma vez prepará-la – e a mim mesmo – para todas as possibilidades. A voz não era mais do que um sussurro.
“Eu prometi que iríamos tentar... Se eu fizer alguma coisa errada, se eu machucar você, você deve me dizer imediatamente”. Era uma ordem, não uma pergunta. Eu tinha que deixar isso bem claro, porque ela simplesmente não conseguia se conter. Esse papel sempre era meu. Ela assentiu, parecendo me levar com seriedade. Deu um passo à frente, e encostou a cabeça no meu peito. Pude sentir sua respiração quente contra minha pele, rápida, profunda. Eu não queria magoá-la, não queria perturbar aquele momento que já era tão complexo. Busquei algo para dizer que pudesse tranquiliza-la. Mas ela foi mais rápida do que minha mente.
“Não se preocupe,” sua voz era um murmúrio. “Nós pertencemos um ao outro”. Aquelas palavras me emocionaram de uma forma indescritível, e removeram uma parte do meu medo de forma mais eficiente do que todas as minhas racionalizações. Suspirei profundamente, inalando o cheiro suave que vinha dos seus cabelos, misturado com o cheiro intenso dela toda. Puxei seu corpo para mais perto de mim, pousando minhas mãos em suas costas, colando minha pele contra a dela com cuidado, me deliciando com o calor que irradiava dela e do ambiente. Era a primeira vez que eu a tocava daquela forma tão completa, e sorri levemente ao pensar que era apenas o começo.
“Para sempre”, foi tudo em que consegui pensar, antes de puxa-la mais para o fundo da água. Naquele momento eu era apenas e somente uma parte dela.
(continua...)
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