[Essa Fanfic foi escrita por mim e é nada mais que uma homenagem ao trabalho maravilhoso de Stephenie Meyer e à essa saga que todos nós amamos.
Se gostaram da Fic, divulguem para outros fãs da saga! Bjos, Anna Grey!]
Capítulo 12: A Estrada
- Eles vão nos rastrear Nessie. Assim que meu pai disser a eles que não voltamos para casa. – Jacob cortou o silêncio sufocante. Seguíamos pelas estradas secundárias com o sol se pondo à nossas costas. Fui tragada de meus devaneios pelas palavras de Jacob, e imediatamente me vi planejando o próximo passo. Era estranho como essa nova Renesmee pensava e agia. Era quase como se meus instintos fossem milhões de vezes mais rápidos que eu. Senti meus músculos se retesarem com a perspectiva de ser caçada pela minha própria família. O que eles pensariam quando descobrissem que eu estava fugindo deles? O que fariam quando soubessem que eu e Jacob não estivemos na casa de Charlie naquela manhã? De uma coisa eu tinha certeza. Eu estava deixando minha amada família – meus amados pais – para traz outra vez e seguindo meu próprio caminho, e eu não sabia se esse caminho teria volta. A perspectiva de nunca mais vê-los era assustadora demais para pensar agora, justamente quando eu tinha que descobrir um jeito de despistá-los.
Eu não era mais uma menina – assim como Jacob não era mais um garoto – apesar da aparência. E infelizmente o destino quis me colocar a prova, me testando com coisas que eu sequer compreendia, como o amor impossível que eu sentia pelo rapaz ao meu lado, que crescia e se alojava cada vez mais fundo em mim. Como o ódio que se espalhava por meu corpo cada vez que eu pensava que, mais uma vez, Aro tentava tirar minha família de mim. Eu não apenas queria encontrá-lo e confrontá-lo, eu precisava daquilo. Sete anos não abrandaram minhas lembranças nem tão pouco minha raiva. Tantas coisas novas que se misturavam em mim, me mudaram mais rapidamente que qualquer outra coisa. Mas como manter a salvo as pessoas que amo, se elas estão tentando me impedir? Eu precisava despistar meus pais, devia haver um jeito. Mas como? Eu podia imaginá-los agora, chegando em Forks e ligando para mim, depois para Billy, que diria a eles que eu e Jacob tínhamos ido visitar Charlie. Então minha mãe ligaria para Charlie e ele diria que não estivemos lá. E eles estariam em nosso encalço antes do amanhecer, nos rastreariam e nos encontrariam. Meu pai descobriria tudo e todos estaríamos expostos. Não podia acontecer, eu me certificaria disso. Eles não podiam nos encontrar, não agora que eu estava chegando perto.
Eu não fazia idéia do quanto tempo demorei para concluir tudo isso, quando olhei para Jacob, ele estava me olhando de esguelha, analisando meu comportamento mudo.
- Jake, pare o carro. – Jacob olhou de mim para a estrada escura e – concluindo que não podia parar no meio da pista sem acostamento – estacionou quase no meio das árvores, onde se abria um pasto de vegetação rala e espaça. Desligou o motor e esperou. Dois minutos de total silêncio se passaram, Jacob respirava fracamente enquanto encarava as próprias mãos no colo.
- Escute, precisamos pensar um pouco ok? – Eu não estava gostando da distância falsamente displicente que emanava de Jacob. Eu queria ouvir suas reclamações de como eu estava sendo irresponsável, de como seria impossível despistar nosso cheiro e nossa direção. Mas ele não disse nada. Apenas encarava o nada, esperando que eu falasse e despejasse mais maluquices. Respirei fundo e tentei deixar a voz firme ao falar. Falhei miseravelmente.
- J-Jake, fale comigo, esse silêncio está me matando. – Um lamurio trêmulo e suplicante escapou por meus lábios no lugar da frase corajosa e decidida que eu tentava formular. Jacob me encarou, seu rosto estava tranqüilo – insondável – mas seus olhos brilhavam de um jeito incandescente, quase me queimavam na escuridão que nos cercava.
- Eu concordei em vir até Forks com você para te tranqüilizar de que aqueles sonhos e visões não passavam de besteiras. – Disse ele numa voz fraca, mas suficientemente firme para me exaltar. – Mas as coisas se complicaram e eu não sei o que fazer. – Ele suspirou e voltou a encarar a escuridão. Fiquei quieta, ouvindo o coração dele martelar ruidosamente.
- E se você se ferir? Se estiver certa sobre os sanguessugas da Itália e isso for uma armadilha? – A cada palavra, sua voz tornava-se mais rouca e sua respiração mais audível. – Se era isso que eles queriam? Tirar você de perto de sua família? E eu te ajudando a colocar o pescoço a prêmio. – Jacob cerrava os punhos rigidamente, tentando conter os tremores que agora balançavam o carro.
- Jake, vá com calma. – Não seria nada fácil ficar num Rabbit apertado com um lobo enorme e raivoso. Ele respirou duas, três vezes e conseguiu encontrar o foco. Eu preferia que ele gritasse comigo, que despejasse toda raiva em mim e não que se culpasse e responsabilizasse por tudo que me acontecia. Mas como eu ia explicar a ele o quanto era importante prosseguir? Como eu o faria entender que lá no fundo, em alguma parte mais sábia e corajosa de mim, algo gritava furiosamente para que eu seguisse em frente sozinha? É claro que eu temia, afinal, eu não estava contando com nada além de meus instintos e visões desconexas de pessoas que eu não via há anos – ou que nunca vi.
- Não posso fazer isso Ness. Se algo der errado, se você… – Ele parou, inspirando grandes lufadas de ar, como se estivesse sufocando. Por um momento eu pensei que ele fosse sair do carro, arejar a cabeça, mas ao invés disso ele girou a chave na ignição e ligou o carro.
- Jake, o que… – Não tive tempo de terminar a frase.
- Estamos voltando Nessie. Vou te levar para casa e nós vamos esclarecer as coisas com sua família. – Sua voz era grave e dura, ele não me olhou enquanto falava. Colocou o carro de volta na estrada e acelerou para o sul.
- Jake, você não pode fazer isso! – Eu gritei para ele, tentando fazê-lo parar o carro. Mas Jacob mantinha-se firme.
- Você pode me odiar por isso Nessie, mas eu não vou deixar você se matar.
E então, tudo aconteceu rápido demais. Em um segundo eu olhava boquiaberta para Jacob, tentando pensar num jeito de fazê-lo seguir em frente comigo, e em outro eu estava me estatelando contra o vidro semiaberto do carro. Jacob freou bruscamente logo após uma curva fechada, o carro não estava tão rápido – pelo menos não para mim – mas foi o suficiente para me fazer bater contra a porta e arrancá-la com um baque de pedra contra metal. Rolei pelo asfalto em meio aos cacos e ferragens ainda presos em mim, escorreguei por um barranco íngreme encoberto por uma relva baixa. Quando finalmente parei, na encosta do morro, eu não estava nem um pouco machucada, mas minhas roupas estavam arruinadas, rasgadas e sujas de terra em toda parte, e eu estava muito irritada. Sentei na terra fofa e comecei a me livrar dos cacos de vidro emaranhados em meus cabelos, minha raiva era tão grande que desejei que Jacob, pelo menos, tivesse quebrado um dedo ou dois. Foi então que ouvi passos na estrada acima, o atrito de solas de sapato contra o solo e o barulho desajeitado que projetavam me diziam que não eram de Jacob. Escutei com mais atenção, e se nenhum caco de vidro estava obstruindo minha audição, eu estava certa de que eram três pessoas distintas. Inspirei. Um cheiro quente de suor, sujeira e bebida chegou até mim. Humanos.
Comecei a subir a encosta do barranco o mais silenciosamente que pude. O que diabos três humanos estavam fazendo no meio de uma estrada à noite, e pelo que parecia, a pé? Me ocorreu então que Jacob fora obrigado a parar para não atropelá-los. Bem, isso não atenuou minha raiva, se ele não estivesse agindo como uma babá irritante, nós não estaríamos aqui, perdendo um tempo precioso da fuga.
A voz de um dos três homens soou estranhamente alto na noite imaculada, e eu parei, a três metros da borda para ouvir.
- Você acha que ele está morto? – Perguntou um deles, se aproximando alguns passos do Rabbit sem porta. Perguntei-me o que Jacob estava pretendendo, fingindo-se de morto.
- Talvez. Vamos logo com isso, reviste tudo. O carro devia estar podre, olhem onde foi parar a porta. – Desdenhou o outro. Os três homens riram e começaram a apalpar as reentrâncias do carro. Eles com certeza não viram quando voei morro abaixo, fora tudo muito rápido para olhos humanos captarem no escuro. Não seria uma boa idéia aparecer assim, suja, mas sem nenhum arranhão, depois de rolar um barranco com cacos de vidro pra todo lado. Eles perceberiam algo de errado comigo. Esperei eles terminarem o serviço e darem o fora. Ladrõezinhos de merda, Jacob ia ficar muito louco quando visse seu carro arruinado daquele jeito. Mas por que ele não estava socando aquelas caras nojentas? Se eu conhecesse Jacob como pensava conhecer, um amassado na lataria daquele carro já justificava uns tapas.
Uma apreensão ácida começou a ferver em meu estômago. E se Jacob estivesse realmente ferido? Ele se curaria não é? Afinal, ele era um imortal, como eu. Apesar de saber que Jacob poderia ser esmagado por um ônibus e ainda estaria fazendo piada, não pude deixar de subir mais alguns metros e espiar entre a vegetação na borda. Dois dos homens se espremiam pelo buraco onde eu arranquei a porta do passageiro, um remexia nossas mochilas no banco traseiro, o outro apalpava o porta-luvas. O terceiro estava do lado oposto, onde provavelmente Jacob estava fingindo-se de morto. Eu não podia deixar de achar estranho aquela atitude completamente incomum de Jacob. Nem em um milhão de anos eu pensei que iria presenciar o dia em que Jacob não estivesse animado por uma briga, mesmo com humanos fracos e sensíveis. Eu não conseguia enxergar Jacob dalí, os homens tapavam meu campo de visão, então apenas esperei que terminassem seu saque logo, para que eu pudesse convencer Jacob de seguir para o norte comigo.
- Achei um celular, uma carteira recheada de verdinhas e vários cartões de crédito. Aqui diz que é de uma tal de Re-ne-sse Cullen, que nome estranho. Será que esse aí roubou? Não achei nada dele aqui, só uns trapos velhos. – O homem ao lado da janela do motorista começou tatear os bolsos do jeans e da jaqueta de Jacob. E então, os outros dois se afastaram alguns passos, contando o dinheiro que pegaram em minha bolsa. Foi quando eu vi a mão de Jacob subir veloz até o pescoço do homem que tateava seus bolsos. O homem pulou para traz com os dedos de Jacob apertando ferozmente seu pescoço. Os outros dois pararam, e uma gritaria nervosa de “largue ele” e “eu vou atirar” se embaralhou na cena. Jacob segurava o homem num aperto de aço enquanto varria a noite a minha procura. Ele nem sequer piscou quando saiu do carro guindando o homem a dez centímetros do chão pelo pescoço. Ele contornou o carro e atirou o homem roxo e ofegante aos pés dos companheiros armados. Olhou para a porta do carro retorcida na guia da estrada e deu um passo em direção ao barranco atrás dos homens. Dois tiros ecoaram na noite e Jacob tombou no asfalto negro.
***
Não pensei que seria assim. Sempre que me imaginava frente a frente com a morte eu supostamente estava chorando, ou lutando, ou ao menos, lamentando. Mas só o que havia em mim nesse momento era uma dormência exaustiva, como se meu corpo estivesse cansado como jamais estivera em toda minha vida. O mais curioso é que eu podia sentir cada parte de mim, nunca estive mais consciente de meu corpo, de minha mente, de meu coração pulsando como jamais fez em toda minha curta vida. E havia minha alma, uma luz de esperança dentro de cada ser vivente, e ela agora estava corrompida, partida ao meio, irremediavelmente manchada de vermelho, de sangue humano. A única coisa que me fez parar foi a total ausência de vida naqueles três corpos inertes e secos. Como pude contrariar toda a crença de minha família? Como pude ignorar séculos e séculos de negação, de esforço, de sofrimento? Aqui, aninhada no colo do homem que me arrastava floresta adentro, do homem que – contrariando seus instintos e os horrores do que eu acabara de fazer – estava me levando embora, para longe dos meus pecados, para longe da minha desgraça, eu só conseguia sentir mais repulsa por mim mesma. Eu não podia justificar aquilo, nem para mim, nem para ninguém. Ouvi os tiros, vi Jacob tombar, vi seu sangue ser derramado e simplesmente me atirei contra seus agressores. Rasguei a garganta dos três e não parei até a última gota daquele líquido imundo escorregar por minha língua e se infiltrar em minhas veias como um ácido corrosivo – e delicioso. O pior em todo aquele pesadelo foi sentir o prazer pulsando em mim, foi me sentir tão vívida e fortificada que nem mesmo a vergonha e a repulsa conseguiam fazer meu corpo parar de funcionar, como uma festa. Minha mente estava apenas parcialmente consciente de Jacob ateando fogo nos corpos e no carro que tanto se esforçou para montar, seu primeiro grande feito. Os ferimentos de bala já estavam fechados em seu peito quando me ergueu do chão, suja de sangue e terra, e me levou para longe do fogo, da fumaça dos corpos queimando, da cena do meu crime.
Ele não disse nada, apenas limpou minha sujeira, encobriu meu mal feito e me carregou nos braços pela floresta rumo ao norte e não parou de correr até o limite do estado.
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